Um dia depois de discutir sobre a verdade e a mentira no relato jornalístico, a TV mostra todos os ângulos da ida do pai e madrasta de Isabella Nardoni à delegacia para depor depois da divulgação do resultado final da perícia.
O caso inicialmente foi conhecido como o da "menina que se jogou ou foi atirada pela janela" do 6º andar de um prédio em São Paulo - tentativa da mídia de enunciar o não julgamento prévio do crime, como se a superexposição não fosse o maior de todos os julgamentos.
Rua da casa dos avós e da delegacia fechada para evitar o trânsito, espaço reservado para jornalistas, banheiros químicos instalados à disposição de "populares" que se aglomeram, globocop passando, entrevista com policial militar que faz a segurança na tentativa de manter a "ordem pública", cartaz e pichação no muro, tumulto na saída do carro da família rumo ao depoimento, repórteres, cinegrafistas e fotógrafos não contém a ânsia de avançar sobre o carro, rumo ao melhor flash.
E agora?
* Família amorosa escreve cartas lidas e relidas em telejornais, acreditando que a "justiça prevalecerá". Verdade ou mentira?
* Mãe e pai preocupados mantém declarações e fotos em seus perfis no Orkut, recebendo centenas de comentários. Verdade ou mentira?
* Avós anunciam que acreditam na inocência do casal. Verdade ou mentira?
* Crime gera comoção nacional que leva pequena multidão a gritar insultos na porta da casa ou da delegacia. - "Justiça! Assassinos!". Tempo para fazer pose para a câmera que passa. Verdade ou mentira?
* Mídia inclui na cobertura matérias que falam sobre a transformação do episódio em minissérie, sem incluir na abertura o número do episódio. Ficcção e fato se confundem. Verdade ou mentira?
* Dossiê da perícia divulgado e depoimento chave marcado coincidentemente para o dia em que a menina faria 6 anos. Verdade ou mentira?
* Nada mais acontece no Brasil. Verdade ou mentira?
E agora?
Vontade de apelar mesmo para Nietzsche: que pretensiosos somos atrás da verdade?
"Cuán distintamente se comporta el hombre estoico ante las mismas desgracias, instruido por la experiencia y autocontrolado a través de los conceptos! Él, que sólo busca habitualmente sinceridad, verdad, emanciparse de los engaños y protegerse de las incursiones seductoras, representa ahora, en la desgracia, como aquél en la felicidad, la obra maestra del fingimiento."